quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A voz do mar

O mar
que delira
em meus olhos
consome o tempo
em suas
ondas impermanentes

Da orla de meus
ouvidos
deslizam peixes
e uma sereia
faz carinho
em meu peito
com sua cauda
perfumada

E tento
(em vão)
fazer com que
a música
das águas
soe mais alto
que sua voz


Paraty - RJ - 23/12/13

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vertigem em São Paulo

escaparam aos olhos
o lume verde de ausência
em corvos que sobrevoam a carniça
de um sentimento que já nasceu morto

a água comunica
com seu brilho escuro
que todas as coisas finitas
passam por sua sentença líquida
e se transpõem em brilho
na chama que emana das nuvens
em tardes quentes
abafadas no escritório
de  gavetas do esquecimento

meus olhos ardem
no vermelho turvo que emana
de suas unhas que coçam minh’alma
viver é sufocar o espinho do desengano a cada passo

como um arcanjo dizimado
desbravo abismos dançantes na minha memória
onde o vivido e a vontade que acontecesse
se confundem numa película irremovível
cuja sessão acontecerá póst mortem
num cinema da boca do lixo
nas unhas gastas de São Paulo


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A mosca no ar




até mesmo a mosca
que passa a vida a enfeitar
a merda
atinge sua plenitude
quando consegue parar no tempo
absoluta e brilhante
prefere permanecer parada
em sua rota de voo
enquanto o mundo
desaba
em movimento

domingo, 24 de novembro de 2013

Pressentimento

I
A janela
(aparentemente)
petrifica
a paisagem
que nos observa

I
I
O poema passa pela
necessidade
de fazer as palavras
voarem em plenitude
ao peito imponderável
que faz a falta de sentido
existir

III
O corte da água
da chuva
rasga o (momento) presente
sobre o telhado

IV
É como se a chuva
comunicasse em silêncio
que a movimentação das águas
faz lembranças de noites inabitáveis
brotarem como sangue quente
num corpo que pulsa
por desejo

V
barulho
significação
embrulho
transformação


VI
esse paraíso de palavras
que sem avisar
mapeia meu peito
e grita

VII

passar pela vida sem falar de amor
é como pregar o olho na janela
e não perceber
a beleza silenciosa
que ali acontece

depois que o amado se vai
dor e desvario
na cabeça
fazem morada

o ponteiro da existência
quer andar pra trás
contam-se os dias
em regresso
onde a paz
                                              mesmo que num instante
arquitetou maravilhas

o esconderijo do desejo
é o silêncio

VIII
é capaz que todas as coisas
que o sentido não é capaz
de significar
permaneçam flutuando
nesse doce permitir
que se chama sonhar


passei o tempo
a medir
que o existido
(só faz sentido)
se o futuro permitir

IX
o efeito da saudade
se regenera
quando a fotografia
invade o que o presente
não pode mais fornecer

letras de música
se misturam ao arrepio do corpo
num mosaico de memórias dolorosas
que as vistas querem revisitar

X
quem parte
leva tudo de nós
consigo

e é como se a parte que se foi
não mais pudesse ser recomposta
a não ser pelo vento
das mãos ausentes

XI
Num quase sorriso
ela alisa o porta-retratos
e imagina estar
no instante colorido
que a fotografia a força estar




XII
a sinfonia de silêncios
do morto
nunca cessa

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Balbuciei triste
ao reconhecer
que no tempo presente
o existido
(a voz da saudade)
se desfez
em letras
desenhadas no livro
que você me dedicou
Rodopiei (de dor)
na fúria das águas
que insistiram em cair
do abismo escuro
que me faz enxergar

A ausência fica
e o cheiro vai
(e agora)
a pedra do silêncio
habita
a terapia (fria)
em que me abandono

Parti
certo que
para permanecer
é preciso saber
ficar

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Palavras verdes
florescem de sua boca azul
de água
O branco dente
                     rasga
vermelha minha carne
vibrante
no laranja
               deste sol
pulverizo meus pecados
em tentações marrons
como a terra
que faz nascer os frutos podres
amarelo é o gozo
que escorre pela pele pelos poros
da alma

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Me abrace
perceba que
meu ombro
sempre aguardou
o repouso
de sua cabeça

É neste peito
que vou tecer
o travesseiro
de nossas vidas

Te observar
dormir
me faz acordar
e perceber
que zelar o seu
sono
é a maior sorte
que eu poderia ter
A luz se faz
água
quando o círculo
de fogo (sol)
vai embora

E então
as luzes da cidade
dançam nos nossos olhos
e nos mostram
que a vida
abre portais fotográficos
a cada vida que se
encerra
num piscar de olhos
A vida
 é uma
 ida
(doída)
e sem voltas

Ambiguidade das Flores

Plantei no jardim
do esquecimento
as memórias
que fazem o meu
coração bater
com defeito

E regando o plantio
com lágrimas
percebo que
só me tenho
em vida
quando a flor
da morte
- num instante
se abre

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Água cinza

E se o barco dos olhos
não for forte
para a tempestade de lágrimas
que naufraga em seu peito?

O mar está sempre visível
aos pés de quem quer senti-lo.

Amar é sempre possível
aos corações que dormem
em brasa
mesmo no corte seco
do nada evocado pela ausência
de quem se espera.

Terra à vista

O abismo é perto
de qualquer
passo próximo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

E você que
está aí
(e também aqui)

Porque se enforca
nessa corda de fogo
que é o silêncio?

Não percebe que
os dias se perdem
como o calor
da saudade
de quem se vai?
Amor
brando
forte
doce
         como pólvora
rasga
meu instante
e acorda
meu sonho

Sobre o registro

No fundo
o que se escreve
nada mais é
do que a
vontade
de permanecer
(vivo)
de alguma forma

Manto de luz

No véu
negro
da madrugada
a cidade
dormia
(sem saber)
iluminada
pelo sorriso
amarelo
da lua
solitária

Cantiga

A neblina se evapora para dar lugar às tempestades de cores que se movimentam em mim quando sou agraciado pelos seus olhos. O tempo se revela doloroso inimigo na perpetuação de todo instante de sua ausência.

Uma nova linha tece o bordado de meu desejo, tão singelo no clarão de seu sorriso. Vai ver que é por isso, que sempre que me despeço, já começo a te imaginar novamente.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Para
e escuta
a existência.

Bate-volta

Difícil jogar água em amor que arde em transtornada labareda. Você me pede amor, mas não se certificou se o pedaço de carne que bombeia e cospe sangue dentro de mim, funciona. Ele bate por um pedido de socorro do meu corpo, mas a verdade é que uma praga (de amor) rara passou por aqui e deixou o espaço em irreversível desordem. Um amor incurável não se esquece com um arremedo sentimental.
Exercício
de se observar
envelhecer
é ficar
em frente
ao espelho
e esperar
que o reflexo
não nos obedeça
e assim
desfaça de vez
o absurdo
da vida refletida

Olhar a porta

Uma música
no quarto
(o mais inabitado
da casa)

O som está
(dentro)
e a porta
aberta

Quando se
olha muito
uma porta
(aberta)
projetamos chegadas
improváveis
daqueles que já partiram

sexta-feira, 10 de maio de 2013

domingo, 5 de maio de 2013

Espaços

Na luz dos dias
a vida segue escavando raiz
em fotografias
                          coloridas
                                             de saudades

regurgitando faltas 
alimentando vazios

vamos em frente. 

domingo, 24 de março de 2013

O meu corpo
ofertado ao tempo
- sem o meu consentimento -
muda

Muda como a transição
das estações
voltando sempre outro
que não o mesmo
volta sempre novo
no outro.
Escrever uma dor é difícil.
É ter de abrir o centro
do amargo
que sempre evitamos.

A dor escrita
merece ser sentida
e assim
eternizada.

Quando escrevemos
somos eternos.
Reconhecer este instante
pequeno
É o que me move
para o oculto eterno
do depois.

O que não existe
é o que somos
e o que queremos.

A chuva de filhos.

A madeira
quando faz
amor
com o fogo
fabrica a sua
própria chuva

E na afirmação de seu sexo
chove pra cima
devolvendo filhos de brasa
para o céu.

A gota enviada

Uma gota que cai ferozmente do céu
como se fosse predestinada
invade o seu olho e te acorda.

É a natureza te chamando.

A gota rascunhou
a lágrima
que meu olho
quis chorar
e não conseguiu.
Choro agora, de mentirinha.

terça-feira, 12 de março de 2013

O que se vê numa fotografia


na foto
o pai
         orgulhoso
segura o filho nos braços
como se fosse um troféu

"a vida quando quer bater, não alisa"


sexta-feira, 1 de março de 2013

Às vezes
a vida merece leveza.

Trilogia do desespero


I

E então se esgota
aquilo que nunca teve início
a sede do precipício
de um beijo derramado em chamas
nas águas
                 que azuis
transbordam quentes
e tristes
na lagoa
de
sua saliva

II

C(l)aras são essas horas
em que no bando me acanho
e no meu canto
me reconheço

III

Aporrinha a dor
no amor
que em vão
tentei buscar

é o presságio do inferno
que não são os outros
e sim, eu mesmo

é sim
assim
só assim
sou assim
sozinho

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O eterno retorno

E agora é o momento
de deixar voltar para que fique
ou que
de repente
Algum farelo de razão explique
que espécie de demônio (ou deus)
se apossa de mim
quando tudo que vem de ti
transforma e ressuscita
o morto que em mim
habitava

ou melhor

que parte de mim só vive
(ou vive só)
quando você me aparece.

Me mate a sede desse destino
que parece se tracejar apenas
com o voo da ave que gorjeia
no pântano escuro das incertezas.

Ensaio sobre o pensamento

As imagens que habitam minha cabeça, de forma totalmente desordenada, é que mapeiam as minhas vontades. Se penso numa palavra, busco rapidamente uma imagem que lhe constitua sentido. O contrário também ocorre, mas de modo impreciso. Às vezes uma imagem não precisa de palavra alguma para lhe dar cores, formas e até o cheiro imaginário que elabora.

Até mesmo a palavra imaginação. Perceba que pode ser atribuída livremente à "imagem + ação", onde o indivíduo é o arquiteto de sua própria fantasia.

Somos preparados para pensar por imagens, e as palavras, ainda que bem empregadas, não atingem com totalidade, a forma daquilo que se pensa ou pesa. Vai ver que a vontade da palavra é se casar com a imagem. Ou vice-versa.

Pouso felino

Deixo aqui a pergunta:
Com o que sonham os gatos
quando dormem de queixo
para cima?
O começo
expresso
do peso
espesso
meça
o cheiro
do tempo.

Vermelho

Vermelho
é o espelho
narcisista
do sangue

Sua unha é vermelha
Sua boca é vermelha
O branco de seu sorriso
é vermelho.

A ferida
que fica
no corpo
é vermelha.

A saudade é vermelha.

As minhas preces são vermelhas

E até o meu silêncio é vermelho.

Vermelho é o barulho
do seu coração
que bate em mim
quando o azul
entristecido
Insiste em te levar.

Pedra que pesa

Pai
é o seu silêncio
que ecoa em nossa
insônia

É a sólida
e firme rocha
de sua ausência
que nos faz perceber que
o canto dos pássaros
já não soam mais
musicais

Contudo
não deixo escapar
aquela saudade verde
que vem disfarçada
nas árvores que você
plantou um dia
e que
certamente
viverão mais que nós

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Prelúdio paterno

É difícil falar sobre a morte de si mesmo.
Falo de si porque meu pai constituiu a essência
do que me compõe como ser humano
apoiado também
pelas mãos de minha mãe.

Posso dizer que morri ali com ele também
no dia 27 de janeiro de 2013
às 23h50
quando seu cérebro se tornou nada mais
que um campo vazio
sem ideias
                 e sem sangue
para ser habitado apenas pelo
silêncio das flores
                           da morte.

Aguardo agora
ansiosamente
uma resposta ao inexplicável.

Aos 52 anos
forte como um tigre
uma veia que se rompe
o tira subitamente
do meio de nós.

Enquanto isso
quem entra num bar e mata 15 pessoas
passeia livremente no mundo
no mesmo chão que nós
que
        inutilmente
tentamos seguir
"no caminho do bem"

Se Deus existe
vai precisar de uma justificativa que decifre este enigma
que nos assombra.

Aqui, neste mundo
- esta navalha que parece cortar apenas
para o lado dos inocentes
e perseverantes -
tento escorar meu pranto
nas casas
que meu pai construiu
literalmente.

Pedreiro exímio
ele está aqui
em cada bloco
cada partícula de cimento
que utilizou para erguer
não só a minha
mas casas de diversas pessoas
que sequer conheceram
o tamanho de seu coração.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

Fuga de si

Corre para o nada
para fugir
              - de si mesmo
Não sabe que
                     não se pode
estar noutro lugar
se não nesse corpo
                              oco
de solidao e abismo
que o sustenta.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Movimentos imprecisos

Quando ando
o céu
está
parado

Quando paro
o céu
passeia calmo

Pergunta permanente

Qual é a parte deste todo que me falta?

Fragmentos

Não consigo voltar os olhos para mim
apenas para o mundo.

Sou o estímulo que recebo
de fora.

E isso muda
o que há por dentro.

No que consiste o instante?

Em que esperança guardei o beijo
da tua volta?

O olho que filtra
o momento
da dolorosa decisão.

O seu caminho não tem volta,
pois hesitou
em dar o primeiro
passo.

E o motivo desse pulsar
expulsar o passado
tragar o presente
e urinar o futuro

Essa não é a velocidade
que eu queria.

Mal penso em pensar e
noite já virou dia.
A árvore que
voa com o pássaro
dentro de si
dá doces frutos
aos animais
da floresta
dos esquecidos

Fade out

Como um outro
que em mim habita
sinto-me estranho
no meu próprio
corpo

Sinto minha identidade
se perder
nas imagens que minhas vistas
recebem

É estranho estar preso
dentro deste corpo
que embora me constitua
muitas vezes
não o reconheço

A sina do ano

Em 31 de dezembro
meia noite
a cachoeira de
luzes coloridas
enchem o céu
de festa
e esperança
em todo o planeta

Janeiro
o primeiro

Fevereiro
Alegre e sorrateiro

Março
a realidade

Abril
da saudade

Junho
de festa

Julho
de encontros

Agosto
de reinício

Setembro
de abraços

Outubro
de encantamento

Novembro
de vazios

Dezembro
de eternidade
O começo
           é a queda

Na flor que
vê sua oportunidade
na fresta do concreto

A vontade de
                       partir
para uma chegada

Tempestade de cheiros
galhos secos
de ausência
                    guardam o tempo