sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A mosca no ar




até mesmo a mosca
que passa a vida a enfeitar
a merda
atinge sua plenitude
quando consegue parar no tempo
absoluta e brilhante
prefere permanecer parada
em sua rota de voo
enquanto o mundo
desaba
em movimento

domingo, 24 de novembro de 2013

Pressentimento

I
A janela
(aparentemente)
petrifica
a paisagem
que nos observa

I
I
O poema passa pela
necessidade
de fazer as palavras
voarem em plenitude
ao peito imponderável
que faz a falta de sentido
existir

III
O corte da água
da chuva
rasga o (momento) presente
sobre o telhado

IV
É como se a chuva
comunicasse em silêncio
que a movimentação das águas
faz lembranças de noites inabitáveis
brotarem como sangue quente
num corpo que pulsa
por desejo

V
barulho
significação
embrulho
transformação


VI
esse paraíso de palavras
que sem avisar
mapeia meu peito
e grita

VII

passar pela vida sem falar de amor
é como pregar o olho na janela
e não perceber
a beleza silenciosa
que ali acontece

depois que o amado se vai
dor e desvario
na cabeça
fazem morada

o ponteiro da existência
quer andar pra trás
contam-se os dias
em regresso
onde a paz
                                              mesmo que num instante
arquitetou maravilhas

o esconderijo do desejo
é o silêncio

VIII
é capaz que todas as coisas
que o sentido não é capaz
de significar
permaneçam flutuando
nesse doce permitir
que se chama sonhar


passei o tempo
a medir
que o existido
(só faz sentido)
se o futuro permitir

IX
o efeito da saudade
se regenera
quando a fotografia
invade o que o presente
não pode mais fornecer

letras de música
se misturam ao arrepio do corpo
num mosaico de memórias dolorosas
que as vistas querem revisitar

X
quem parte
leva tudo de nós
consigo

e é como se a parte que se foi
não mais pudesse ser recomposta
a não ser pelo vento
das mãos ausentes

XI
Num quase sorriso
ela alisa o porta-retratos
e imagina estar
no instante colorido
que a fotografia a força estar




XII
a sinfonia de silêncios
do morto
nunca cessa

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Balbuciei triste
ao reconhecer
que no tempo presente
o existido
(a voz da saudade)
se desfez
em letras
desenhadas no livro
que você me dedicou
Rodopiei (de dor)
na fúria das águas
que insistiram em cair
do abismo escuro
que me faz enxergar

A ausência fica
e o cheiro vai
(e agora)
a pedra do silêncio
habita
a terapia (fria)
em que me abandono

Parti
certo que
para permanecer
é preciso saber
ficar

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Palavras verdes
florescem de sua boca azul
de água
O branco dente
                     rasga
vermelha minha carne
vibrante
no laranja
               deste sol
pulverizo meus pecados
em tentações marrons
como a terra
que faz nascer os frutos podres
amarelo é o gozo
que escorre pela pele pelos poros
da alma