sábado, 25 de agosto de 2012

Boca no frio

O ferro ardente
coagula vermelho
quando o frio
abre a cratera
de meus lábios

Mordo a ponta
da pele
para me prontificar
que a boca
ainda pulsa
fora do beijo

múltiplo de dois

Agora
se escora
na dobra
do dobro

O movimento da penumbra

Quando estou deitado e o escuro é absoluto, teimo com os sentidos. Mesmo sabendo que se abrir os olhos, a paisagem será mesma que está dentro, permaneço atento e espero alguma coisa deste silêncio
de
olhos
e
ouvidos.

É como se a hora de dormir, quando realmente (achamos que) paramos, fosse o momento que nos mostra que a vida maqueia sua brevidade na metamorfose de sonoridades.

É com a vista aberta
no escuro
que vejo

E tenho certeza de que morremos quando silenciamos. 

Presságio do rasante

Nestas partes
que me queimam a memória
Há memória

Calejado de ter sonhos
que não são meus
Desenterro nos olhos teus
meu motivo tão tristonho

Que só me deixe em descompasso
aquilo que eu possa tocar
Tocar para sentir
Sentir para guardar

E se não fossem estes desenganos
Tão profanos na raiz de meu pranto
Não existiria conexão ao pássaro
que só bate asas dentro de mim

Embora seja assim
isso não é uma gaiola

É a maneira de invejar as asas
que eu
sempre
quis
ter

Sobre a permanência

Tem pó
no
Tempo