quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Prelúdio paterno

É difícil falar sobre a morte de si mesmo.
Falo de si porque meu pai constituiu a essência
do que me compõe como ser humano
apoiado também
pelas mãos de minha mãe.

Posso dizer que morri ali com ele também
no dia 27 de janeiro de 2013
às 23h50
quando seu cérebro se tornou nada mais
que um campo vazio
sem ideias
                 e sem sangue
para ser habitado apenas pelo
silêncio das flores
                           da morte.

Aguardo agora
ansiosamente
uma resposta ao inexplicável.

Aos 52 anos
forte como um tigre
uma veia que se rompe
o tira subitamente
do meio de nós.

Enquanto isso
quem entra num bar e mata 15 pessoas
passeia livremente no mundo
no mesmo chão que nós
que
        inutilmente
tentamos seguir
"no caminho do bem"

Se Deus existe
vai precisar de uma justificativa que decifre este enigma
que nos assombra.

Aqui, neste mundo
- esta navalha que parece cortar apenas
para o lado dos inocentes
e perseverantes -
tento escorar meu pranto
nas casas
que meu pai construiu
literalmente.

Pedreiro exímio
ele está aqui
em cada bloco
cada partícula de cimento
que utilizou para erguer
não só a minha
mas casas de diversas pessoas
que sequer conheceram
o tamanho de seu coração.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

Fuga de si

Corre para o nada
para fugir
              - de si mesmo
Não sabe que
                     não se pode
estar noutro lugar
se não nesse corpo
                              oco
de solidao e abismo
que o sustenta.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Movimentos imprecisos

Quando ando
o céu
está
parado

Quando paro
o céu
passeia calmo

Pergunta permanente

Qual é a parte deste todo que me falta?

Fragmentos

Não consigo voltar os olhos para mim
apenas para o mundo.

Sou o estímulo que recebo
de fora.

E isso muda
o que há por dentro.

No que consiste o instante?

Em que esperança guardei o beijo
da tua volta?

O olho que filtra
o momento
da dolorosa decisão.

O seu caminho não tem volta,
pois hesitou
em dar o primeiro
passo.

E o motivo desse pulsar
expulsar o passado
tragar o presente
e urinar o futuro

Essa não é a velocidade
que eu queria.

Mal penso em pensar e
noite já virou dia.
A árvore que
voa com o pássaro
dentro de si
dá doces frutos
aos animais
da floresta
dos esquecidos

Fade out

Como um outro
que em mim habita
sinto-me estranho
no meu próprio
corpo

Sinto minha identidade
se perder
nas imagens que minhas vistas
recebem

É estranho estar preso
dentro deste corpo
que embora me constitua
muitas vezes
não o reconheço

A sina do ano

Em 31 de dezembro
meia noite
a cachoeira de
luzes coloridas
enchem o céu
de festa
e esperança
em todo o planeta

Janeiro
o primeiro

Fevereiro
Alegre e sorrateiro

Março
a realidade

Abril
da saudade

Junho
de festa

Julho
de encontros

Agosto
de reinício

Setembro
de abraços

Outubro
de encantamento

Novembro
de vazios

Dezembro
de eternidade
O começo
           é a queda

Na flor que
vê sua oportunidade
na fresta do concreto

A vontade de
                       partir
para uma chegada

Tempestade de cheiros
galhos secos
de ausência
                    guardam o tempo