É difícil falar sobre a morte de si mesmo.
Falo de si porque meu pai constituiu a essência
do que me compõe como ser humano
apoiado também
pelas mãos de minha mãe.
Posso dizer que morri ali com ele também
no dia 27 de janeiro de 2013
às 23h50
quando seu cérebro se tornou nada mais
que um campo vazio
sem ideias
e sem sangue
para ser habitado apenas pelo
silêncio das flores
da morte.
Aguardo agora
ansiosamente
uma resposta ao inexplicável.
Aos 52 anos
forte como um tigre
uma veia que se rompe
o tira subitamente
do meio de nós.
Enquanto isso
quem entra num bar e mata 15 pessoas
passeia livremente no mundo
no mesmo chão que nós
que
inutilmente
tentamos seguir
"no caminho do bem"
Se Deus existe
vai precisar de uma justificativa que decifre este enigma
que nos assombra.
Aqui, neste mundo
- esta navalha que parece cortar apenas
para o lado dos inocentes
e perseverantes -
tento escorar meu pranto
nas casas
que meu pai construiu
literalmente.
Pedreiro exímio
ele está aqui
em cada bloco
cada partícula de cimento
que utilizou para erguer
não só a minha
mas casas de diversas pessoas
que sequer conheceram
o tamanho de seu coração.
sinto muitíssimo. e quanto ao enigma, sei que cedo ou tarde Ele vai responder.
ResponderExcluireu conheço essa dor, rapaz. sei que palavra nenhuma consola, e sei que ela NUNCA acaba, e é bom que nao acabe: mantém a lembrança viva.
tente nunca se esquecer do som da voz dele, som esse que por sinal você ainda vai ouvir muito nos proximos meses, mas depois de um tempo ele vai enfraquecendo. nao deixa, tá?
As sementes que ele deixou em você, já estão florescendo... Nasce um verso, um poema, outro homem.
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