I
A janela
(aparentemente)
petrifica
a paisagem
que nos observa
II
O poema passa pela
necessidade
de fazer as palavras
voarem em plenitude
ao peito imponderável
que faz a falta de sentido
existir
III
O corte da água
da chuva
rasga o (momento) presente
sobre o telhado
IV
É como se a chuva
comunicasse em silêncio
que a movimentação das águas
faz lembranças de noites inabitáveis
brotarem como sangue quente
num corpo que pulsa
por desejo
V
barulho
significação
embrulho
transformação
VI
esse paraíso de palavras
que sem avisar
mapeia meu peito
e grita
VII
passar pela vida sem falar de amor
é como pregar o olho na janela
e não perceber
a beleza silenciosa
que ali acontece
depois que o amado se vai
dor e desvario
na cabeça
fazem morada
o ponteiro da existência
quer andar pra trás
contam-se os dias
em regresso
onde a paz
mesmo que num instante
arquitetou maravilhas
o esconderijo do desejo
é o silêncio
VIII
é capaz que todas as coisas
que o sentido não é capaz
de significar
permaneçam flutuando
nesse doce permitir
que se chama sonhar
A janela
(aparentemente)
petrifica
a paisagem
que nos observa
II
O poema passa pela
necessidade
de fazer as palavras
voarem em plenitude
ao peito imponderável
que faz a falta de sentido
existir
III
O corte da água
da chuva
rasga o (momento) presente
sobre o telhado
IV
É como se a chuva
comunicasse em silêncio
que a movimentação das águas
faz lembranças de noites inabitáveis
brotarem como sangue quente
num corpo que pulsa
por desejo
V
barulho
significação
embrulho
transformação
VI
esse paraíso de palavras
que sem avisar
mapeia meu peito
e grita
VII
passar pela vida sem falar de amor
é como pregar o olho na janela
e não perceber
a beleza silenciosa
que ali acontece
depois que o amado se vai
dor e desvario
na cabeça
fazem morada
o ponteiro da existência
quer andar pra trás
contam-se os dias
em regresso
onde a paz
mesmo que num instante
arquitetou maravilhas
o esconderijo do desejo
é o silêncio
VIII
é capaz que todas as coisas
que o sentido não é capaz
de significar
permaneçam flutuando
nesse doce permitir
que se chama sonhar
passei o tempo
a medir
que o existido
(só faz sentido)
se o futuro permitir
IX
o efeito da saudade
se regenera
quando a fotografia
invade o que o presente
não pode mais fornecer
letras de música
se misturam ao arrepio do corpo
num mosaico de memórias dolorosas
que as vistas querem revisitar
X
quem parte
leva tudo de nós
consigo
e é como se a parte que se foi
não mais pudesse ser recomposta
a não ser pelo vento
das mãos ausentes
XI
Num quase sorriso
ela alisa o porta-retratos
e imagina estar
no instante colorido
que a fotografia a força estar
XII
a sinfonia de silêncios
do morto
nunca cessa
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